Comunicação nas abelhas sem ferrão: diferentes maneiras de compartilhar informações 

Compartilhar uma casa envolve comunicar informações importantes para manter a organização. Por exemplo, quando o estoque de comida em nossas casas acaba, fazemos uma lista e vamos ao supermercado, ou podemos cultivar uma horta, e pedir ajuda para colher os alimentos que precisamos para a semana. Todas essas tarefas envolvem comunicação. Mas como as operárias das abelhas sem ferrão organizam a coleta de alimentos? Como elas garantem que a colmeia tenha suprimentos suficientes? As abelhas certamente não fazem listas, mas têm maneiras interessantes de informar suas companheiras de ninho que há boas flores esperando por elas do lado de fora.

Autora:  Ana Paula Cipriano

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As abelhas sociais podem viver em ninhos com centenas ou milhares de outras abelhas, tornando a organização e coordenação de suas atividades muito importantes. Três principais tarefas podem se beneficiar de uma boa comunicação entre as companheiras de ninho: procurar um novo local para construir um ninho, combater intrusos e coletar alimentos. Sair para encontrar uma flor sozinha pode ser um desafio para uma abelha, mas se ela recebe dicas sobre onde encontrar boas fontes de alimento, a tarefa se torna mais fácil.

As abelhas melíferas desenvolveram uma maneira famosa de compartilhar informações sobre flores de boa qualidade com suas companheiras de ninho: elas dançam. A ‘dança do requebrado’ informa a distância e a direção da fonte de alimento, o que pode tornar o processo de obtenção de néctar e pólen mais produtivo. Mas, e as abelhas sem ferrão? Elas também dançam?

Com mais de 550 espécies de abelhas sem ferrão nos Neotrópicos, os pesquisadores ainda têm muito a aprender sobre sua comunicação. No entanto, há décadas os segredos de como as abelhas nativas compartilham informações dentro do ninho têm sido investigados, especialmente no Brasil. A metodologia científica básica para estudar a comunicação sobre as fontes de alimento envolve treinar abelhas para visitar uma flor artificial que fornece água com açúcar, semelhante ao que as pessoas fazem como hobby com beija-flores.

Forrageiras de Plebeia droryana visitando um alimentador artificial de treinamento. Foto Christoph Grueter

Quando as abelhas começam a visitar essa flor de plástico, os pesquisadores a movem alguns metros para longe da posição original e estudam a reação das abelhas de acordo com a espécie. Algumas delas, como Trigona spinipes(Arapuá) e Scaptotrigona postica (Mandaguari), por exemplo, podem dominar uma fonte de alimento com muitas companheiras de ninho, indicando suas habilidades de comunicação em massa.

Mas o que acontece dentro do ninho? Como essas abelhas sem ferrão comunicam suas descobertas? A resposta é: não, elas não dançam da mesma forma que as abelhas melíferas. Mas podem ser tão eficazes quanto elas, ou até mais, em compartilhar informações e garantir que as colônias tenham alimento suficiente. Normalmente, após encontrar uma boa fonte de alimento, uma forrageira retorna e começa a correr perto da entrada do ninho, em movimentos de ziguezague ou corridas, esbarrando nas outras abelhas. Basicamente, essa abelha experiente entra em um estado de agitação e informa as outras abelhas de que há boa comida do lado de fora e que elas devem ir encontrá-la.

Abelhas Melipona quadrifasciata (Mandaçaia) se alimentando em uma fonte de alimento artificial. Foto: João Luís Lobo/Entre Espinhos e Ferrões.

Durante essas corridas, a abelha experiente também compartilha um pouco de comida com as companheiras de ninho, em um comportamento chamado trofalaxia. O cheiro do alimento sendo transferido também pode ajudar a guiar as companheiras de ninho até as flores. Curiosamente, foi demonstrado para algumas espécies de Melipona que, enquanto essa abelha experiente está dando comida para as outras, ela também está sacudindo seus músculos torácicos e, dependendo da qualidade do açúcar coletado, ela vibra mais intensamente. Diferente dos humanos, as abelhas não têm uma maneira de dar 5 estrelas para uma ótima comida em um aplicativo, mas elas encontraram maneiras interessantes de recomendar alimentos de boa qualidade.

Devido à sua diversidade, as abelhas sem ferrão exibem uma variedade de estratégias de comunicação, e algumas espécies podem guiar as companheiras de ninho até uma fonte de alimento específica, enquanto outras comunicam apenas alguns aspectos das flores, como o cheiro e a direção. Ainda é um enigma como algumas abelhas sem ferrão comunicam a localização de uma flor visitada. Ao mesmo tempo, parte dessa grande questão está sendo resolvida ano após ano pelos pesquisadores.

Uma maneira específica que algumas abelhas sem ferrão guiam suas companheiras de ninho é por meio de trilhas químicas. Forrageiras experientes pousam em folhas, galhos e outras superfícies que estão no caminho entre o ninho e a fonte de alimento e depositam feromônios que guiam outras abelhas. As abelhas Arapuá, por exemplo, podem usar essa estratégia incrível.

No entanto, mesmo após estudar as trilhas químicas, as vibrações e as corridas em ziguezague que as abelhas fazem, muitas perguntas permanecem abertas sobre a comunicação em abelhas sem ferrão. Imagine um meliponário com vários ninhos, ou mesmo uma floresta com muitos cheiros e insetos diferentes, como uma forrageira identifica o início de uma trilha de feromônio e a segue até a flor?

Vivendo em um dos locais mais biodiversos do mundo, ainda é um mistério como as abelhas sem ferrão usam cheiros e movimentos coordenados para garantir que seus ninhos tenham alimento suficiente. Nesse contexto, destaca-se a importância de preservar nossos ambientes naturais, que são cheios de espécies nativas incríveis, como as abelhas sem ferrão, para garantir que muitos outros comportamentos interessantes, ainda desconhecidos, sejam descobertos.

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